quarta-feira, 26 de maio de 2010

Leito 85 – Parte I

Caros eleitores, sou um cara simples como qualquer outra pessoa, porém não me deixo abater com os problemas da vida e principalmente com uma doença que venho lutando desde 2002, mas todo ser humano tem os seus momentos de tristeza e de jogar tudo para o ar, não se importando com as consequências; Fui um desses, fiz consciente aonde eu iria chegar, ao fundo do posso, uma vida onde não existia noite e nem dia, luxuria e bebedeira, tudo se definiria em prazer que o meu ou o dinheiro de um outro troxa poderia proporcionar, quando a mina acabava procurava outra. assim se passava até quatro dias sem aparecer em casa, enfim o meu estado de saúde foi agravando cada vez mais, pois não tinha hora para comer e dormir, tudo era “prazer”,  o resultado: cama, febril, volume expressivo do lado direito do abdome com dores horrendas, febre alta e pé direito até o abdome expressivamente inchados. Creio que é o estado alarmante da doença, não  me desespero, eu procurei, porém pessoas que me amam ficaram preocupadas…

Começa a grande jornada ao Leito 85, médicos, exames, hospitais e problema de transporte.

Andando com o corpo visivelmente inclinado para a direita, sem poder rir, bocejar ou fazer qualquer tipo de foça abdominal, dificuldades de erguer a perna direita pelo menos dois centímetros do chão, entrava no carro com ajuda de outras pessoas.

Hora de enfrentar o médico, antes de entrar em seu consultório, observo em seu rosto barbado de óculos de armação preta, me dou conta que ele tem um olho verde e outro azul, sua expressão de decepção de receber um paciente problemático por ter abandonado o tratamento várias vezes. Sutilmente indaga se estava tudo bem, embora minha face descrevia o estado atual de anemia e uma inflamação ou infecção, falei que estava bem porém relatei o que estava sentindo. – DoOoOooOOooooOOooorrrrrr muita dor! Ele receita alguns medicamentos, avaliação URGÊNTE com oncologista e exames. Dias depois ainda a dor continuava tirando meu sono, duas horas de sono era muito. Consulta para oncologista, quimioterapia liberada, opa estado febril, quimioterapia agendada; Chegado a quinta –feira esperada, hora da quimioterapia agendada, sala de medicação com o soro correndo em minhas veias o estado febril É detectado, mais uma tentativa frustrante de tomar a medicaÇÃo, consulta agendada para segunda-feira; corro para o P.A. de uma outra unidade de saúde, medicado e liberado. Na sexta-feira aproveito a coleta de sangue para mostrar alguns resultados de exames para o médico que me acompanha, saiu do consultório catatônico, não esperava que minha família fosse acusada de abandono e desleixo, pois passei dias após dias em PA e realizando exames, horas depois entro em colapso nervoso, lÁgrimas escoriam abundantemente entre os dedos deixando os vestÍgios da tristeza no chÃo em outro hospital. O dia se sucede sem problemas com febre, apenas a dor insuportável, porém sempre tirando “onda” com o meu próprio abdômen inchado, para que fazer drama se sente dores? procurava transforma-lá em uma distração, contudo sentia dor ao rir mas continuava rindo. Final de semana problemático, febre constante apenas dando uma pausa na segunda-feira, PA. em PA. (Pronto Atendimento ou famoso Pronto Socorro de Urgência), os braços sem veias para furarem, ao menor sinal de agulha elas se escondiam ou não deixavam-se ser furadas; entre dores, piadas, sorrisos e agentes técnicos prestativos e mal educados, buscava algo dentro do mim que pudesse me ajudar a enfrentar tudo isso, os motivos para minha recuperação, passar por esse processo doloroso, não apenas fisicamente mas psicologicamente,  a doença deixa muitas pessoas com baixa estima e necessitam de incentivo pessoal de uma outra pessoa, mas comigo funciona ao contrário, fico desanimado, portanto prefiro que não tentem aplicar os conceitos de auto-ajuda em mim, do tipo “vamos lá vai conseguir superar tudo isso! Tenha fé isso vai passar logo!”  Enfim para finalizar à noite tomo antibiótico e algo mais como transfusão sanguíneas, chego em casa falado com a língua pesada em paz e amor.

Me acordo em uma terça-feira meio atordoado, com aquela certa dificuldade de se levantar devido aos seus aproximadamente 25kg de perna, mas sem dor, ótimo! Entro no minúsculo banheiro como se fosse uma bola quicando nas paredes, de um lado para o outro. Tomo banho como o Nunes Filho, subindo pelas paredes, entro no quarto como homem-aranha, segurando nas paredes. Novamente ao PA, entre furadas e medicamentos, vou para outro PA na qual sou internado.

A partir de agora vou relatar fatos ocorridos, nesse período que estive internado, durante vinte dias no hospital, maior parte no Leito 85.

Sempre postarei com o título Leito 85, agudem…

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